APROXIMAÇÕES E DIVERGÊNCIAS EPISTEMOLÓGICAS ACERCA DA FILOSOFIA DE DESCARTES E KANT

Alexsandro de Souza Bergamasco, Douglas João Orben

Resumo


No presente artigo, objetiva-se apresentar de forma sistemática a epistemologia kantiana, cotejando-a com o racionalismo cartesiano. Neste contexto filosófico, a teoria do conhecimento de Kant é compreendida mediante as condições transcendentais do entendimento e da sensibilidade humana, de modo que todo conhecimento possível se expressa através de uma operação sintética entre intuições e conceitos. Em Descartes, por outro lado, o sujeito epistemológico tem autonomia intuitiva pelo simples pensamento, pois o cogito é um fundamento autossuficiente na produção de conhecimentos indubitáveis. Considerando o pensamento como intuitivo, Descartes prescinde o conhecimento de qualquer elemento empírico, uma vez que a razão pura é condição suficiente para a produção de conhecimentos certos. Kantianamente falando, o cogito cartesiano é insuficiente epistemologicamente, visto que ele desconsidera os imprescindíveis dados sensíveis da experiência. Portanto, o que se pode perceber é uma divergência entre os autores no que diz respeito à importância da experiência no conhecimento: enquanto Kant considera as intuições empíricas como indispensáveis para o processo de conhecimento. Descartes, por sua vez, se não desconsidera a experiência, não a faz necessária para o cogito encontrar certezas epistemológicas.

 

Palavras-chave: Conhecimento. Intuição. Kant. Descartes.

 

Epistemological Approximations and Divergences Concerning

Descartes and kant Philosophy

 

Abstract: In the current article, the purpose is to present in a systematic way, Kant’s epistemology, comparing it with Cartesian rationalism. In this philosophic context, Kant’s knowledge theory is understood transcendental conditions human understanding and sensibility, that all possible knowledge expresses through a synthetic operation between intuition and concepts. In Descartes, on the other hand, the epistemological subject has intuitive autonomy by the simple though, because the cogito is a self-sufficient principle in the indubitable knowledge production. Considering the knowledge as intuitive, Descartes deprives the knowledge of any empirical element, once the pure reason is enough condition to the production of right knowledge. According to Kant, Cartesian cogito is insufficient epistemologically, as he flouts the necessary sensible datum of the experience. Therefore, what we can realize is that there is a divergence between the authors with regards to the importance of the experience on knowledge: while Kant considers empirical institutions as indispensable for the knowledge process. Descartes, in turn, if doesn’t flout the experience, doesn’t make it necessary to the cogito finds epistemological assurances.

 

Keywords: Knowledge. Intuition. Kant. Descartes.


Texto completo:

Download PDF

Referências


ALLISON, Henry E. El idealismo trascendental de Kant: una interpretación y defensa. Prólogo e tradução de Dulce María Granja Castro. Barcelona: Anthropos; México: Universidad Autónoma Metropolitana – Iztapalapa, 1992.

BATTIST, César Augusto. O método de análise em Descartes: da resolução de problemas à constituição do sistema do conhecimento. Cascavel: EDUNIOESTE, 2002.

BENDA, Julien. O pensamento vivo de Kant. Tradução de Wilson Veloso. São Paulo: Martins, 1967.

BEYSSADE, Michelle. Descartes. Lisboa: Edições 70, 1972.

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

BRANDÃO, Yulo. A coisa em si em Kant e suas atuais ressonâncias. Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia, n. 129, p. 37-50, jan.-mar./1983.

CAYGILL, Howard. Dicionário Kant. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

COLOMER, Eusebi. El pensamiento alemán de Kant a Heidegger. El idealismo: Fichte, Schelling y Hegel. Barcelona: Herder, 1990. v.2.

COTTINGHAM, John. Dicionário de Descartes. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

CRAMPE-CASNABET, Michèle. Kant: uma revolução filosófica. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994.

DALBOSCO, Cláudio Almir. O idealismo transcendental de Kant. Passo Fundo: EDIUPF, 1997.

DELEUZE, Gilles. Para ler Kant. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976.

DESCARTES, René. Discurso do método. As paixões da alma. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. v.1. 154 p. (Os pensadores).

DESCARTES, René. Discurso do método. As paixões da alma. Meditações 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

DESCARTES, René. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999, 151p.

DURANT, Will. A Filosofia de Emanuel Kant ao seu alcance. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 19. Editores, S. A. 1944.

GRAYEFF, Felix. Exposição e interpretação da Filosofia teórica de Kant: um comentário às partes fundamentais da Crítica da Razão pura. Lisboa: Edições 70, 1987.

GUIMARÃES, Waldir S. A função das ideias em Kant. Fragmentos de Cultura, Goiânia: Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás, v. 3, n. 5, p. 22-33, 1993.

HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. 8. ed. Coimbra: Arménio Amado, 1987.

HÖFFE, Otfried. Immanuel Kant. Barcelona: Herder, 1986.

KANT, Emanuel. Crítica da Razão pura. Tradução Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Editora Fundação Caloute Gulbenkian, 1985.

KANT, Emanuel. Progressos da Metafísica. 1. ed. Lisboa: Edições 70, 1995.

KANT, Emanuel. Prolegômenos a toda a metafísica futura: que queira apresentar-se como ciência. Lisboa: Edições 70, 1987.

KUHN, Thomas. A revolução copernicana. Lisboa: Edições 70, 2002.

KUJAWSKI, Gilberto de Mello. Descartes existencial. Editora Herder. São Paulo, 1969.

LEBRUN, Gérard. Kant e o fim da Metafísica. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

LEPARGNEUR, François Hubert. Espaço e tempo em Kant. Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia , v. 10, n. 1, p. 103-114, jan.-mar./1960.

LEWIS. G. Rodis, Descartes e o racionalismo. Porto-Portugal. Rés.

LOPARIC, Zeljko. A semântica Transcendental de Kant. 2. ed. rev. Campinas: Unicamp, 2002

LOPARIC, Zeljko. Kant e a filosofia analítica. Cadernos de História e Filosofia da Ciência. Campinas: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), v.2, n.1, p. 27-32, 1990.

LOPARIC, Zeljko. Kant e o ceticismo. Manuscrito: Revista Internacional de Filosofia. Campinas: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), v. 11, n. 2, p. 67-83, 1988.

LOPARIC, Zeljko. Sobre o método de Descartes. Manuscrito: Revista Internacional de Filosofia. Campinas: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), v.14, n.2, p. 93-112, out./1991.

PASCAL, Georges. O pensamento de Kant. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

WOOD, W. Allen. Kant. Tradução de Delamar José Volpato Dutra. Porto Alegre: Artmed, 2008.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.




 



Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

 

Indexada em: